quinta-feira, 24 de maio de 2012

COMO (TENTAR) SOBREVIVER EM UM COQUETEL


Se você é estudante de algum curso universitário, não importa de que curso, provavelmente já foi em um congresso, simpósio ou seminário. Eventos que – juram – devem constar aos montes em nossos currículos. Particularmente eu nunca entendi ao certo – ao menos não para o meu curso – qual a função de ir a um congresso quando você está ainda frequentando os primeiros períodos, momento em que o seu nível intelectual em relação à carreira escolhida é semelhante ao de um chimpanzé aprendendo a descascar bananas. No entanto, por contar créditos extras para o currículo – e por que vira e mexe tem algum veterano conhecido de longa data que sempre chama a gente para fazer número na apresentação de um trabalho – nós acabamos indo. Enfim, se por um lado nós não estamos aptos a aprender alguma coisa com a palestra, por outro nós estamos bem aptos a comer... E vamos convir, muitas pessoas vão ao primeiro dia ansiando o famoso coquetel.
Como você imagina que seja um coquetel de congressos, simpósios, e seminários.
Bem, usualmente espera-se que as pessoas que estejam frequentando um curso superior tenham o mínimo de civilidade para se comportar em um evento no qual a bebida e a comida são escassas – aliás, já ouvi lendas de que as bebidas são escassas não por acaso, ao menos o motivo na minha cidade seria devido a uma desvairada que resolveu tirar a roupa e fornecer aos congressistas um showzinho à parte, mas claro, isto são boatos – no entanto, não é bem isto o que acontece... Aliás, isto está longe de ser a realidade. Primeiro por que muita gente vai para o evento achando que vai jantar lá. Pode parecer brincadeira, mas muitas vezes já vi calouros falando que deixariam de jantar no RU apenas por que iria ter um coquetel sei lá quantas horas depois no congresso – não que deixar de comer no RU não seja uma alternativa saudável... – e que encheriam a pança lá. Nestes momentos, inclusive, eu consigo identificar os novatos dos veteranos: enquanto aqueles juram que é possível se fazer uma refeição descente no primeiro evento gustatório de um congresso estes já sabem que esta é uma operação de guerra. Segundo por que simplesmente quando entram os estudantes na área onde estão os garçons estão é cada um por si e Deus contra todos! E eu não estou falando mentira! Não importa de qual faculdade, se é enfermagem, medicina, direito, engenharia – um colega meu falou que nem na marinha é assim – cada um vai tentar arrumar um pedaço de alguma coisa que estiver na mesa. E quanto mais exótico melhor – afinal de contas, ninguém sabe qual vai ser a próxima vez que vai poder comer um negócio com queijo no meio, um trem marrom por cima e outro trem vermelho embaixo – ainda que seja veneno para rato. Chega a ser até engraçado observar o desespero dos serventes na hora de servir determinadas áreas. Alguns são tão rápidos que conseguem rivalizar em agilidade com um maratonista, outros têm tanta elasticidade para passar entre o povo que fazem a segunda lei da física –acho que é aquela que diz que dois corpos não ficam no mesmo lugar – parecer apenas uma mera formalidade nos livros do ensino médic. E claro, se os bravos trabalhadores suam para servir a uma turba de famintos que aparentam nunca ter visto um prato de comida na vida, o que dizer sobre os estudantes?
Chega a ser engraçado como a cara de pau do ser humano para arrumar uma coxinha grátis pode alcançar níveis astronômicos. Nos primeiros dez minutos você, ao observar o salão nobre do local onde está ocorrendo o evento pode realmente pensar que são estudantes esforçados (!?) que estão saboreando lentamente uma iguaria acompanhado de uma taça de vinho branco – embora os bufês daqui já tenham chegado a conclusão de que não importa o que seja, bastando ter álcool pode tocar o foda-se e está tudo pronto. Resumindo, agora eles usam é cerveja mesmo! – enquanto comentam a respeito da palestra sobre traumatismo encefálico ou então sobre como provar a teoria da relatividade apenas com o teorema de Pitágoras – sim Raquel, isto é possível! Isto, nos primeiros dez minutos. Nos segundos seguintes ocorre uma transição rápida. Os instintos começam a falar mais alto, amizades de infância são desfeitas e começa a discórdia generalizada. Você literalmente caça a comida. Claro que os mais espertos se colocam em posições estratégicas. Ficar na porta da cozinha ou de onde estão saindo os garçons é um excelente plano – claro, isto até o coordenador perceber que quase ninguém a não ser um seleto grupo de vagabundos alunos está conseguindo comer quase a metade antes de a bandeja chegar no meio da multidão – você pode pegar o que quiser e quando quiser. Outros procuram os lugares mais altos – como a escada de uma piscina ou mesmo uma cadeira – e observam a movimentação procurando um alvo específico e o resto se degladeia como um bando de espartanos lutando contra persas pelas poucas esfihas que restam. Claro, isto quando há alguma abundância de comida mas...
Tá vendo esta galera? Imagina como se todas estas pessoas estivessem andando aleatoriamente para vários lados. Agora jogue cinco garçons no meio. Isto é um coquetel!
... E quando o Buffet não teve nem logística o suficiente para alimentar todas as bocas, como faz? Bem, ai a situação fica ainda mais delicada, afinal de contas como enfrentar um bando de humanos se comportando da mesma forma que um grupo de macacos com síndrome de Tourette? Não enfrenta! Já houve casos que era melhor deixar o pessoal se matar para ver o que eles conseguiam do que se esforçar para servir todo mundo. Era despachar o pobre do garçom para o meio da galera para o povo jogar suas mãos encima da comida como peixes famintos indo atrás de grãozinhos no aquário. É como ver uma daquelas cenas dantescas de quadros retratando o inferno com dezenas de almas tentando alcançar um pouco de redenção. Deprimente.

Você voltando para casa depois do coquetel!

Mais irônico ainda é no final da noite. Quando tudo acaba e o pessoal tem que ir embora. Alguns resolvem emendar a noite em um barzinho ou em um restaurante – afinal de contas, brigar pela caça dá uma fome... – e outros vão para casa tão quebrados como se tivessem participado de um torneio de MMA. Claro, que este não é o fim. Coqueteis geralmente indicam o início de um evento, logo, há continuação. E quando eu falo de continuação não me refiro a palestras a respeito de cirurgias complexas ou descobertas de novas partículas... Me refiro ao coffee Brake... que depois eu falo um pouco mais a respeito.

Um comentário:

  1. Pois então, tivemos a Semana Acadêmica de Biologia aqui na UFRJ... tinha Coffe Break todos os dias. No primeiro dia, deixei de almoçar por ter comido demais no evento, HAHAHAHA!

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